Amor & Ódio - Capitulo 5

14-02-2011 16:00

E hoje mesmo o capitulo 5 de bonus pra vocês pelos meus atrasos, querendo deixar um alô pras minhas leitoras, Adriana Macedo, Evelyn Reis, Paula Silva ! Boa Leitura.
 

Trégua

Um barulho estrondante ecoou próximo ao meu ouvido, fazendo minha cabeça latejar. Forcei meus olhos a abrirem, mas a claridade os cegaram.
As lembranças da noite anterior ainda eram recentes em minha mente, como se tivessem acabado de acontecer. Eu ainda conseguia sentir o efeito das mãos de Fred passeando por meu corpo sobre o pano fino do meu vestido encharcado pela chuva.
Seus beijos deixando um rastro de fogo por cada lugar que passavam. Seus braços fortes me levantando, me encaixando em sua cintura e me deitando sobre o capô do carro recém-batido.
Tudo estava fugindo do meu controle. Parecia muito óbvio onde tudo aquilo iria acabar. E embora eu não quisesse admitir naquela época, eu gostaria que acabasse. Mas ao invés de deixar as coisas acontecerem da maneira que eram para acontecer, eu simplesmente parei.
Agarrei-me com todas as forças ao último fio de sanidade que ainda restava e me afastei de Fred, entrando no carro como se nada tivesse acontecido.
Ele permaneceu durante um tempo na chuva. Quando entrou no carro, eu estava encolhida no banco, fingindo dormir.
- Missie?
Voltei ao presente, forçando meus olhos a abrirem mais uma vez, e deparei com uma imagem turva de Megan Johnson. Pisquei algumas vezes até que aos poucos a foquei, notando sua expressão preocupada.
- Como você chegou até aqui? - perguntei, esfregando as costas da mão em meus olhos inchados de sono.
- Nós estávamos voltando da festa quando vimos o carro parado aqui. - respondeu, tirando alguns fios úmidos de cabelo do meu rosto. - Eu fiquei tão preocupada. A porta estava trancada. Will batia na janela e vocês não respondiam.
- Está tudo bem, Megan. - tranqüilizei-a, segurando em suas mãos pequenas. - Não sofremos nenhum arranhão.
- Eu sei. - ela fungou. - Vocês tiveram muita sorte.
- Hum... Onde está Fred? - indaguei só notando a sua ausência naquele momento.
- Will o levou embora. - os olhos de Megan saíram de foco por alguns segundos, e eu jurava ter visto neles um misto de preocupação e culpa. - Todos já foram, na verdade. Só ficamos David e eu, para esperar o guincho.
- Ele simplesmente foi?
Era estranho acreditar que Fred havia ido embora, deixando seu carro nas mãos de outras pessoas. Embora Megan fosse sua irmã, ele nunca deixaria seu carro nas mãos dela, não por livre e espontânea vontade.
Não havia nada no mundo que Fred amasse mais do que seu precioso carro. Chegava a ser ridícula a maneira como ele tratava-o, como se fosse um filho ou um animal de estimação.
Talvez pelas circunstâncias da noite anterior, pensei, ele não havia explodido em fúria ao ver como tinha ficado a frente do seu carro. Ou talvez ele soubesse que tia Ashley pagaria o conserto, assim como pagava e fazia qualquer coisa que ele pedisse.
- Ele não estava se sentindo bem. - disse de cabeça baixa.
- O que?
Uma sensação estranha apertou em meu peito, deixando-me quase sem ar. Tentei levantar mas uma pontada em minha cabeça fez com que eu voltasse a me encostar no estofado de couro.
- Acho que você precisa passar no médico ao sairmos daqui. - comentou Megan ao notar minha careta de dor.
- Não há por que. - me fiz de desentendida.
Megan apenas revirou os olhos e um silêncio desconfortável se apossou do ambiente. Minutos depois eu me encontrava no banco de trás do Shelby GT Mustang de David, indo em direção à casa da minha avó - com o guincho que carregava o carro de Fred nos seguindo.
Assim que chegamos na cidade, Megan insistiu para que passassemos em um hospital, eu respondi que não precisava e que eu me sentia perfeitamente bem. O que era verdade, já que a minha dor de cabeça havia passado.
Eu não esperei que o guincho terminasse de depositar o carro de Fred na frente de casa quando chegamos. Desci do carro assim que David parou e entrei na casa, ansiando por um banho quente.
Demorei mais do que de costume no banho, deixando que a água limpasse qualquer vestígio da noite passada. Ela podia levar consigo o cheiro de Fred em minha pele, mas era uma pena as lembranças ainda sondarem em minha mente, ao invés de descerem pelo ralo.
Desci até a cozinha após me arrumar. Meu estômago roncava forte, lembrando-me que faziam horas desde que eu havia comido alguma coisa pela última vez. Comecei a procurar algo para comer na geladeira e na dispensa, algo não muito trabalhoso de se fazer. Algo simples e prático, suficiente para matar a fome que me consumia.
Sentei-me em frente a bancada da cozinha, devorando o lanche com frios que eu havia preparado, parando apenas para dar alguns goles no leite com achocolatado.
- Missie.
Depois de ouvir a voz grave e um pouco mais grossa do que normalmente era, tudo aconteceu muito rápido. Eu não sabia como havia parado lá. Eu simplesmente estava caída no chão antes mesmo de pensar em uma maneira de evitar a queda.
- Você está bem?

Ergui meus olhos, encontrando com um par de olhos azuis indecifráveis. Fred esticou a mão para me ajudar a levantar e eu a ignorei, me levantando sozinha.
- Desde quando você se preocupa? - sibilei, sentando de volta na cadeira de frente para bancada.
- Eu quero conversar com você. - disse sentando em minha frente, ignorando minha pergunta.
Eu lhe lancei um olhar indiferente e continuei a comer meu lanche.
- Quero te pedir desculpas por ontem a noite.
Ao término de suas palavras eu paralisei o lanche próximo a boca, e o encarei estupefata. Aquilo só podia ser uma piada. Fred Johnson me pedindo desculpas? Era bom chamarem um médico, porque certamente ele estava doente, e a coisa era séria.
Fiquei o encarando por alguns segundos – tempo suficiente para notar seu nariz levemente avermelhado e sua pela um pouco pálida – até que eu não me segurei e comecei a rir descontroladamente.
- Muito boa, Fred. - murmurei entre risos. - Já pode começar a fazer stand-up pelos bares a fora.
- Não estou brincando. - sibilou, me fitando seriamente.
- Sério? - perguntei com sarcasmo. - E o que você está querendo com isso?

- Uma trégua. - respondeu, dando de ombros. - Um verão menos insuportável para cada um.
- Eu já ouvi essa antes. - ri sem humor.
- Nossas brigas quase causaram um acidente, onde...
- Pára de ser mulherzinha, Johnson. - o cortei.
- Eu vou parar de te infernizar, ok? Não vou mais te agarrar a força, nem nada do tipo. - continuou, ignorando minha frase. - E você... bem, você faça o que você quiser.
Ele levantou da cadeira e caminhou até a saída da cozinha. Seu nome saiu de minha boca, antes mesmo que eu pensasse. Ele virou, se apoiando no batente da porta, sem nenhuma expressão em seu rosto.
- Ok. - concordei, dando-me por vencida. - Trégua.
Levantei a mão em sinal de paz e ele assentiu, saindo da cozinha em seguida.
Eu não fazia idéia do que acontecera com Fred para propor uma trégua entre nós. Durante dezoito anos, nunca nenhum de nós havia desistido. Nem mesmo eu, quando pedi para que ele não falasse comigo no verão retrasado. Aquilo não foi exatamente uma trégua.
Realmente, Fred estava doente.
O dia passara rapidamente enquanto eu - na maioria do tempo - fiquei lendo "O Menino do Pijama Listrado", deitada na cama. Eu o encontrara em cima da cabiceira quando voltei para o quarto após ter lanchado.
Talvez Fred falara sério a respeito da trégua, ou simplesmente cumprira com sua palavra de devolver o livro caso eu fosse para festa, o que no final acabou não acontecendo por culpa dele mesmo.
Vovó - como dissera no telefone - voltou naquele dia, no final da tarde. Nós, netos, ficamos sentados em volta dela na sala, ouvindo-a dizer como fora bom rever sua grande amiga Violet, e visitar Chandler. Contamos como havia sido nosso final de semana também, ocultando o máximo de coisa possível.
Já passara das 01h20 da manhã, quando eu desci até a cozinha. Aquela era uma das madrugadas em que eu mal conseguia pregar os olhos. A insônia era algo que costumava acontecer em algumas noites raras.
Depositei a água no copo - após pega-la na geladeira -, bebendo-a em um único gole. Fechei os olhos, sentindo o líquido refrescar minha garganta seca.
O céu estava estrelado, sem nenhuma nuvem em evidência, quando eu saí para a varanda. Dei meia volta, caminhando lentamente até a parte de trás da casa.
Uma figura enrolada em um cobertor, sentada numa pedra em frente ao lago, entrou no meu campo de visão. Por um momento pensei em gritar, ou até mesmo voltar correndo para dentro da casa, mas logo notei uma cabeleira de cor bronze sobressair o grande cobertor.
A noite estava mais quente do que nos outros dias, o que eu estranhei ao ver Fred todo enrolado naquele cobertor. O que uma pessoa ia querer menos naquele momento era um cobertor para se cobrir.
Hesitei por uns instantes antes de caminhar até ele.
- Sabe, estamos no verão caso não saiba. - disse, sentando ao seu lado.
Ele nada respondeu. Me virei para olha-lo e notei sua expressão vaga, seus olhos encarando algo distante. Arqueei as sobrancelhas, o olhando fixamente.
Ele havia me pedido trégua e estava me ignorando daquela maneira. Tudo bem que o provoquei a respeito do cobertor, mas... aquilo não lhe dava motivos para me ignorar, ou fingir que não me ouviu, sendo que eu estava ao seu lado. A não ser que...
Tampei minha boca com as duas mãos, tentando segurar o riso sobre a minha mais nova descoberta.
- Não. Não sou, Missie. - de repente seus olhos encontraram com os meus, transmitindo nenhum tipo de emoção. - A respeito do cobertor, estou apenas com frio.
- Você está bem? - perguntei sem pensar.
- Um pouco resfriado, talvez. - ele deu de ombros.
Ergui minhas mãos, uma em direção à sua testa e a outra em seu pescoço, sem me dar conta do que eu estava fazendo.
- Você está pelando de febre! - desci minhas mãos apertando mais o cobertor em sua volta. - Você precisa ir ao hospital.
- Estou bem. - murmurou - Acabei de tomar um comprimido...
- Fred... - sussurrei, segurando nas laterais de seu rosto quente.
Seu olhar encontrou com o meu, fazendo meu coração se remexer de uma maneira descontrolável. Larguei seu rosto e fitei o chão, sentindo meu rosto ruborizar. Eu não fazia idéia do que estava acontecendo comigo. Eu simplesmente agia sem ter controle dos meus próprios atos.
Um silêncio desconfortável se apossou do ambiente por alguns instantes. Eu não me mexi, continuei no mesmo lugar, olhando para o lado oposto de Fred.
Meu peito subia e descia de acordo com a minha respiração acelerada. Eu me sentia desarmada, sem saber como dar o próximo passo, e qualquer pessoa podia notar isso.
- Por que você me odeia?
A pergunta de Fred quebrou o silêncio, me pegando de surpresa. Por que eu o odiava? Aquela pergunta era simples. Eu o odiava, porque... porque...
- Eu... não sei. - respondi com sinceridade. - Talvez seja porque... eu odiava quando você escondia ou destruía minhas bonecas. Você adorava me provocar e eu odiava seu jeito pomposo de ser.
- Pomposo? - sua voz rouca saíra junto com uma risada fraca. - Eu não era pomposo.
- Era sim. - sorri, o olhando rapidamente. - Você se achava o máximo; o garoto mais lindo da face da terra. Era irritante.
- E você, uma sabichona!
- Eu não me achava uma sabichona! - me defendi, o encarando com incredulidade.
- Ah, se achava sim. - ele riu, e tossiu em seguida.
- Como você está se sentindo?
- Melhor. - ele levantou uma mão até à testa. - Acho que não estou mais com febre.
- Deixe-me ver. - ergui minha mão até sua testa, sentindo-a um pouco morna. - Está diminuindo.
- É...
Seu rosto estava tão próximo que senti sua respiração soprar em meu rosto. Seus olhos fitaram os meus de uma maneira diferente, transmitindo algo que eu não conseguia decifrar.
Minha mão ainda em sua testa desceu, passando lentamente por seu rosto. Fechei meus olhos, sentindo uma sensação estranha me dominar. Segurei em seu maxilar e colei nossas testas. Mais uma vez eu estava sem controle, como se meu corpo agisse por conta própria.
Meu coração batia acelerado em meu peito enquanto meus lábios ficavam cada vez mais próximos dos dele.
- Missie... - sussurrou, segurando em minhas mãos e afastando-as de seu rosto. - Acho melhor você ir.
- O que? - murmurei atordoada, abrindo meus olhos.
- Não. - ele levantou. - Eu vou. Boa noite.
- Não vai. - pedi, segurando em sua mão, quando ele fez menção de se retirar.
- Por que? - ele franziu o cenho.
Eu não queria que ele entrasse para casa. Queria que ele continuasse onde estava, ao meu lado. Mas eu não sabia o por que, simplesmente não conseguia explicar ou até mesmo entender o que estava se passando comigo.
- Você pediu uma trégua, lembra? - balbuciei, ainda segurando em sua mão. - Estamos indo bem. Olha, até ficamos mais de cinco minutos em um mesmo local sem brigar.
- Isso é praticamente um milagre. - riu sem humor.
- Viu. - eu levantei, ficando a milímetros de distância - Fique mais um pouco.
- Eu... - ele passou a mão pelos cabelos. - Eu preciso ir.
- Por que? Você está se sentindo mal?
- Não. É só que...
Ele passou a mão pelos cabelos mais uma vez. Não era da maneira que ele costumava fazer, da maneira naturalmente charmosa. Era um gesto apreensivo.
- É só que? - perguntei, arqueando as sobrancelhas.
- Se eu ficar, eu vou acabar fazendo o que eu dei minha palavra de que não iria mais fazer.
- Que seria? - insisti.
- Estamos dando uma trégua, ok? - ele soltou minha mão da sua. - Não quero... brigar com você.
- Mas não estamos brigando.
- Mas uma hora ou outra vamos acabar. É assim que agimos, Missie.
- Diga que não quer ficar, é mais fácil! - sibilei irritada.
- Diga você por que quer que eu fique. - disse rudemente.
- Eu já disse! - revirei os olhos. - Mas já mudei de idéia.
- Como sempre. - retrucou, tirando o cobertor de sua volta e o colocou em cima do braço. - Viu, estamos brigando de novo.
- É assim que agimos. - sibilei com sarcasmo.
- Sempre, ou não seríamos Fred Johnson e Missie Collins. - disse com desdém.
- A trégua está acabada!
- Ótimo.

 

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